Texto: Kharen Stecca
Fotos: Evelyn Parreira
O lançamento da Plataforma Digital Observatório dos Povos Indígenas de Goiás, Direitos Humanos, Saberes do Cerrado e Inclusão Social (OPIG) foi celebrado no dia 6 de novembro, durante as atividades do 22º Conpeex da Universidade Federal de Goiás (UFG), marcando um momento especial para a universidade e, sobretudo, para os povos indígenas de Goiás. A plataforma é concebida como o principal instrumento do Observatório, destinado a atuar como um espaço construído pelos povos indígenas, baseado em reciprocidade e responsabilidade. Seus objetivos incluem monitorar e documentar a situação dos direitos humanos, dar visibilidade aos saberes, línguas e modos de vida, promover formação e diálogo, e subsidiar políticas públicas. O OPIG também nasce como um espaço de denúncia ética contra o racismo estrutural, a violência sobre corpos e territórios, e a destruição acelerada do Cerrado. O OPIG pode ser acesso em www.opig.ufg.br . Confira o álbum de fotos do evento.

Gestores e representantes indígenas participaram da mesa
A reitora da UFG, professora Angelita Pereira de Lima, destacou que a plataforma digital é o objetivo central e será o grande instrumento pelo qual o Observatório irá atuar. A reitora destacou importantes ações estruturantes realizadas em sua gestão, incluindo a contratação de três professores indígenas pela primeira vez na UFG, e a criação da Unidade Acadêmica Especial Instituto de Formação Indígena na Cultura (anteriormente Núcleo Takinahaky). Além disso, Angelita Pereira de Lima mencionou a construção do Espaço Intercultural com recursos do PAC, uma obra de R$18 milhões de reais, fundamental para a permanência e melhor qualidade de vida dos estudantes indígenas na UFG. A reitora finalizou a sua fala pedindo apoio para a campanha de criação do Instituto Nacional de Cerrado, reforçando que "sem cerrado não há Amazônia e sem povos tradicionais, sem povos originários, não há preservação das florestas e não há preservação do bioma Cerrado".
O vice-reitor da UFG, professor Jesiel Freitas Carvalho, ressaltou a pujança e a potência da universidade em criar espaços adequados para a formação e expressão indígena. Ele relembrou que a ideia de criar o Observatório dos Povos Indígenas de Goiás partiu dele, buscando um projeto de relevância que envolvesse a experiência de Pedro Wilson e o compromisso do Museu Antropológico sob a direção do professor Manuel Ferreira Lima. Para o vice-reitor, a criação do Observatório demonstra que é preciso identificar a "boa ideia", "dar o passo", e então "a obra se faz".
O diretor do Museu Antropológico da UFG e coordenador do OPIG, professor Manuel Ferreira Lima, afirmou que o lançamento da plataforma reafirma o compromisso histórico da universidade com a memória viva, os direitos humanos, o conhecimento ancestral, e o Cerrado como casa mãe. O projeto do Observatório, que tem apoio da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação, nasceu da circulação pelas aldeias, do convívio e da amizade. Manuel enfatizou que o OPIG se alinha diretamente à identidade da UFG, especialmente em relação à inclusão étnico-social e ao Cerrado no território, e que ele não é um projeto “sobre” os povos indígenas, mas um espaço construído “pelos” povos indígenas.
O vice-coordenador do projeto Observatório e professor emérito da UFG, Pedro Wilson, saudou a universidade e a luta pela educação libertadora. Ele lembrou que Goiás já teve dezenas de etnias e hoje conta com apenas três povos representados: Tapuia, Caiapó e Avá-Canoeiro. Wilson descreveu o Observatório de Políticas Públicas Indigenistas de Goiás como um órgão necessário para apoiar os quase 20 mil estudantes indígenas nos municípios goianos e empoderar os cerca de 500 que estão nas universidades. O professor pediu uma salva de palmas em referência à luta favorável ao meio ambiente e à próxima COP 30, afirmando que a destruição da natureza e da água está destruindo os indígenas e que é preciso recuperar essa situação.
Representando o povo Iny-Karajá, o professor Albertino Adiurema agradeceu a iniciativa da universidade, destacando que o povo indígena de Goiás estava sendo esquecido e não estava tendo apoio. Ele compartilhou sua mentalidade de que os estudantes indígenas devem estudar na cidade e retornar às aldeias para "brigar lá na aldeia" junto com seu povo. Albertino expressou gratidão, mencionando que a liderança do seu povo apoiou a ideia do Observatório, tornando-o um "grande parceiro das aldeias".

Professora Eunice Pirkodi destacou o papel da UFG em abrir portas aos indígenas
A professora indígena Eunice Pirkodi Caetano Moraes Tapuia, do Núcleo Takinahaky, expressou sua gratidão e alegria pelo lançamento, lembrando que a UFG abriu as portas para os povos indígenas em 2007, possibilitando avanços em políticas públicas e permitindo que ela se tornasse professora da universidade. A professora ressaltou que a luta dos povos indígenas se torna mais fácil quando eles conhecem as "ferramentas para lutar" providas pela formação intelectual na universidade. Ela reforçou a esperança de que o OPIG seja um importante parceiro, pois o acesso aos direitos é difícil para os povos indígenas de Goiás, e a luta só será fortalecida quando houver a possibilidade de dominar as ferramentas do mundo externo, como o português formal, as leis e a burocracia.
Adriana de Souza, vice-presidente da Associação das Aldeias Buridina e Béd Buè e integrante do povo Iny Karajá de Goiás, destacou a importância do lançamento da plataforma para os povos do estado, vendo-a como um instrumento especial para acompanhar as demandas e fortalecer a relação com a UFG e o Museu Antropológico. Ela afirmou que o OPIG é um parceiro fundamental no acompanhamento das pautas, na garantia da cidadania e na promoção dos direitos. “Os povos indígenas de Goiás foram por muito tempo esquecidos e invisibilizados, mas hoje estão avançando lado a lado com aqueles que realmente respeitam o nosso modo de vida e a nossa cultura”, destacou. Para ela, fazer parte do Observatório significa estar "à frente da luta em defesa do nosso povo", oferecendo sua voz, força e compromisso para que os povos continuem existindo com dignidade e respeito, mesmo que ela não esteja na comunidade todos os dias. A pró-reitora de Pesquisa e Inovação da UFG, Helena Carasek considerou uma grande honra o museu possuir um projeto tão importante e demonstrou grande crença no Observatório, afirmando que o projeto já começa grande. Também desejou muito trabalho e sucesso aos envolvidos.

Plataforma
O portal é um marco na comunicação intercultural do estado, reunindo informações sobre os Iny Karajá, Ãwa-Canoeiro e Tapuia do Carretão, os três povos indígenas reconhecidos em Goiás, além de oferecer um canal seguro para denúncias de violações de direitos humanos.
Segundo João Lúcio, produtor cultural do MA/UFG e responsável pela concepção estética da plataforma, o projeto buscou traduzir visualmente a relação entre o observatório e os territórios indígenas. “Pensamos na simbologia da terracota, que remete à terra, à ancestralidade indígena e às expressões tradicionais, como as ritxokos. João explica que essa tonalidade visual traduz pertencimento, identidade e conexão com o território — fundamentos do trabalho do Observatório. “A ideia era garantir uma coerência visual entre a identidade institucional do OPIG com as identidades indígenas dos três povos de Goiás Iny Karajá, Avá Canoeiros e os Tapuia do Carretão”, afirma. Lucas Yabagata, antropólogo e responsável pelo acervo digital do site explicou que os criadores buscaram uma navegação simples e intuitiva, que ofereça credibilidade, segurança e acolhimento ao público.

Plataforma foi apresentada em detalhes durante o evento
Funcionalidades do site
Entre as principais funcionalidades, estão relatórios periódicos sobre as ações do observatório; base de dados sobre os povos Iny Karajá, Avá Canoeiros e Tapuia do Carretão, reunindo informações sobre história, cultura, território e modos de vida; seção de notícias com atualizações e conteúdos sobre as atividades e questões relacionadas aos povos indígenas do estado; canal para denúncias de violações de direitos humanos, com garantia de anonimato e proteção de dados conforme a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD); divulgação de pesquisas e ações educativas promovidas pelo OPIG em parceria com as comunidades indígenas, fortalecendo o intercâmbio de saberes e práticas culturais.
Canal de denúncias
Um dos destaques do novo portal é o sistema de recebimento de denúncias de violações de direitos humanos. As denúncias poderão ser registradas por meio de um formulário eletrônico seguro, com garantia de anonimato e proteção de dados pessoais. Após o envio, o denunciante recebe um número de protocolo para acompanhar o andamento da análise.
Internamente, as denúncias serão avaliadas por um comitê especializado do OPIG, que fará o encaminhamento dos casos aos órgãos competentes. O site também disponibilizará manuais explicativos e uma descrição detalhada do fluxo das denúncias, reforçando o compromisso do observatório com a transparência e a responsabilidade institucional.